segunda-feira, 23 de novembro de 2009


Se resides, porém em alguma parte,
É no amor que devemos procurar-te ?
Mil vezes não!
O amor é fonte de aflição
Sobre rápidas horas de transporte
Cobra os tributos mais pesados;
No desvairo dos desesperados
Faz-se sócio do crime e irmão da morte;
Crepita é a destruição;
Nas longas noites de vigília triste
É a pena que mais doe no coração,
É o naufrágio, depois da tempestade!
Mas, se não vens do amor, é por que...
Nunca existiu amor e jamais existirá
Felicidade...

Adoniran Cruz

sábado, 24 de outubro de 2009

Aprisionado...


Meu amor, eu tenho tentado com todo o meu ser
Para agarrar uma forma comparável à tua,
Mas nada parece digno;

Agora eu sei por que Shakespeare não poderia
Comparar o seu amor para um dia de verão.
Seria um crime para denunciar a beleza
De uma criatura como ti,

Cada faceta do seu ser
Seja ela física ou espiritual
A partir da qual;
Não há nenhum lançamento.
Mas eu não quero me liberar.
Gostaria de ficar aprisionado para sempre.
Com você por toda a eternidade.
Nossos corações, sempre como um.

Adoniran Cruz

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

No Terceiro Céu...


Quando te aperto,
Em ânsias,
Nestes laços
Dos meus braços,
E vejo corar-te as faces
Tão fugazes,
Ardendo-te a pele em flor
Quando os teus seios
Tão duros e suspensos,
São como punhais
De provocante amor,
Posso gabar-me,
Lisonjear-me
De já ter vivido
De já ter conhecido
Todos os prazeres,
Já tendo tido ocasião
De profanar-te o véu,
Vencendo assim
Distâncias infinitas
E benditas,
Varando as plagas
Do terceiro céu!

Adoniran Cruz

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Versos de Orgulho


O mundo quer-me mal porque ninguém
Tem asas como eu tenho! Porque Deus
Me fez nascer Príncipe entre plebeus
Num Castelo de orgulho e de desdém.
Porque o meu Reino fica para além …
Porque trago no olhar os vastos céus
E os oiros e clarões são todos meus !
Porque eu sou Eu e porque Eu sou Alguém !
O mundo ? O que é o mundo, ó meu Amor ?
__O jardim dos meus versos todo em flor…
A seara dos teus beijos, pão bendito…
Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços…
__São os teus braços dentro dos meus braços,
Via Láctea fechando o Infinito.


Florbela Espanca , adaptação Adoniran Cruz

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Mar de Rosas


Palavra!
Não vejo eu
Grandes coisas
Na ciência
Do deus Cupido,
Quando meus olhos
Descansam
Ciumentos
E sedentos
“Na barra do teu vestido”
Agora vamos aos fatos:
Se a mim tremendo
Tu chegas,
Ardente, ciosa e lânguida,
Da cor das estátuas gregas,
Com volúpia
E sedução,
Então nesse mar de rosas
Purpurinas,
Libertinas,
“Navega meu coração”

Adoniran Cruz

quinta-feira, 8 de outubro de 2009


Sonhei que, numa carteira
Debruçado,
Eu te escrevia
Bem extensa carta,
Onde o teu nome,
Tão mimoso e audível,
Era à flor das linhas,
Repetidas a farta.
Mas quando,
Molhando a pena
No tinteiro,
Em tinta de brasas
E crisol,
Vi que errando
Ou desviando o alvo,
Alguns pingos caiam
No lençol.

Adoniran Cruz

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Aos meus rivais


Ah! Eu os levarei
As barras da justiça!
São gozadores,
São impenitentes!
São famintos de te;
Meus inimigos,
Querem teus carinhos
Sensuais ardentes!
E quem são eles assim,
Perguntas, finalmente
E eu direi,
Morrendo de ciúmes:
Um que te goza os lábios
- O batom
e o outro que te aperta os seios,
O califon.

Adoniran Cruz

sábado, 18 de julho de 2009

Amanhecer


Um lençol rubro pelo além
Dos infinitos céus se desfralda,
Em tons purpúreos
E Deus, nesta hora,
Com olhar derrama
A taça da neblina
Na terrena espalda,
É o vinho da manhã
Que trás ao firmamento
A rosa matutina
Num jardim sangrento.
E um trocadilho
De luminosidades
Pelo céu se induz:
Vê-se a luz a se perder no espaço
Vê-se o espaço a se perder na luz
E numa pintura virgem a manhã traduz
Lâmpada celeste do sidéreo passo.

Adoniran Cruz

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Ilusão de hoje


E foi assim, foi assim,
Naqueles tempos
Tantos prazeres tão poucos!
Tanto ardor nos meus delírios
Se me quedava a cismar,
Sozinho, a consultar os lírios,
Sob o crepe do luar!
Oh! Grande ilusão que embala,
Sóis de loucura fantasia!
Só por um olhar de opala,
Eu me perdi cantando,
A palpitar um dia!

Adoniran Cruz

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Volúpia


Já do teu seio,
Em límpidas redomas,
Gratos aromas
Inundar-me vem.
É a ressonância,
A cor da tua história,
Missal de gloria
Em meu destino além
E eu me deixo envolver
Na onda ardente,
Doce, envolvente
Como um canto-chão,
Como a criança
Que dorme rindo,
Assim ouvindo
Uma floral canção!

Adoniran Cruz

quarta-feira, 10 de junho de 2009

A um coração magoado




Eu pensei que amar fosse tecer um ninho,
E forrá-lo de paina, em macios enleios;
E junto da mulher, como de um passarinho,
Sentir no coração deliciosos gorjeios...

Eu pensava que o amor fosse por um caminho,
Em que num sonho azul, voassem devaneios,
De prazer em prazer, de carinho em carinho,
Levando um riso à boca e uma aurora nos seios...

Eu pensei que o amor fosse a eterna criança,
Que, mostrando no olhar uma chama impoluta,
Perseguisse debalde uma eterna esperança...

Mas, hoje sei que o amor, escravo do desejo,
Nasce e vive na dor, na incerteza e na luta,
Desde o primeiro olhar ao derradeiro beijo...

Adoniran Cruz

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Noite de Núpcias


Noite de Núpcias


Do santuário da lei unidos docemente
Voltam, e a porta azul de um templo abandonado
Entram pedindo ao céu o amor santificado
E saíram do altar ao pôr-do-sol dolente.

Hei-os juntos a casa, o ponto desejado...
Entram, despedem-se! A luz palpita! O noivo sente
De alegrias sem fim, o coração ardente
E cai no leito azul e fecha o cortinado!

Silencio e paz. Mais tarde ouve-se um não e fala
É de quem tem pudor e sente-se prisioneira.
Depois um sim. Meu deus! Um beijo estala...

Há um trecho desse amor que o verso não revela,
Sim, foi o colar de pranto, o derradeiro
Que rolou virginal dos divinos olhos dela.

Adoniran Cruz

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Para alguém em especial... Vc!




Amo-te no silêncio, incontestável,
Temendo a incontinência dos meus olhos,
Pobre amor que se perde, inevitável,
Consumido de apelos e renúncias,
Assim como frio em agasalhos.

Sei que és meu dia, no límpido céu,
Claridade que apenas prenuncia,
Mulher de-vez que a luz vai madurando
Entre brisas e pássaros na altura.

Observo-te, e me castigo a imaginar
O gesto de obter, que não encontro
Para tanta beleza, - e desesperança

E oculto os olhos para não te ver,
E tento em vão ofuscar o pensamento
Se és, a um só tempo, luz que cega e atrai
Na diária, em cada simples momento...

Adoniran Cruz

domingo, 31 de maio de 2009

Qual o remédio?




Alta noite!
Sozinho
No meu leito,
Quando é bem funda
A triste solidão,
A fronte em brasa,
Ardendo a pele em fogo,
Em desespero,
Eu me contemplo, então.
Onde o remédio
Para tantas crises,
Onde o alívio
Para a febre louca.
Se distante
Dos teus reios quentes
E do escarlate
Dessa tua boca...

Adoniran Cruz

terça-feira, 26 de maio de 2009

Coração nosso...


Os sagrados alicerces
Construídos na pura amizade,
Não de desfazem com as sombras
E os choques da tempestade
São imortais! Sobrevivem
São eternos e profundos!
Punhos não há que os rebentem,
Nem golpes certeiros, fundos!
Oh! Minha saudosa querida,
Estás de mim tão distante,
Onde não podem meus olhos
Fitar-te o lindo semblante!
Um dia minha alma errante!
Há de abraçar-te bondade,
Oh! Minha eterna saudade!
Juntos, enfim, novamente,
Ainda por muitos anos!
Oh! Amor! Divino braço,
Quebrando os jugos tiranos.

Adoniran Cruz

domingo, 24 de maio de 2009

Saudade


Perfume que destila a flor em pétalas acordadas
Lagrima que ressumbra ao termo de um sorriso,
Reflexo do passado, escombros de alvorada,
Nesga que mal se vê do extinto paraíso.

Vaga lembrança de uma história ideal de fada
Que em vão tenta avivá-la o cérebro indeciso,
Longínquo ressoar de nota já vibrada,
Ametista da dor na cravação do riso.

Miragem singular das ilusões de outrora,
E do oásis do passado edênica miragem,
No deserto areal de angustia que devora.

SAUDADE – barco azul que no presente aporta,
Delineação fugaz de uma apagada imagem,
Alma evolada, enfim, de uma esperança morta...

Adoniran cruz

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Onde estás?


Onde estás? Não sabes que tu és a minha musa?
Onde estás? Não vês que tu fugindo deixas a minha vida confusa?
Onde estás? Por acaso ignoras que sou um adverso?
Onde estás? Aparece para colorir os meus modestos versos!
Onde estás? Pergunto a todos em um só grito!
Onde estás? Responde-me pois o meu grito é escutado por todo o infinito!

Onde estás? Que nem se quer vejo a tua penumbra!
Onde estás? Pois desejo a tua vida unida a minha em uma só sobra.
Onde estás? Responde-me urgente esta:
Onde estás? Ouve o apelo deste triste poeta!
Onde estás? Não respondes? Tens medo!...
Onde estás? Eu mesmo responderei!... Guardarei, para sempre este segredo.

Onde estás? Dá o teu lenitivo a este rosário de amarguras!
Onde estás? Não vez que a tua ausência me tortura?
Onde estás? Vem que a noite é sombra...
Onde estás? Não vens? Então, saberei resignar-me ofertando-te esta pálida poesia.


Adoniran Cruz

quarta-feira, 20 de maio de 2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009


Tu me pedes licença
E te retiras
No fogo intenso
Desta ansiedade,
E vais saindo,
Ouvindo quem te chama,
Vais atender esta necessidade,
Mas fazes mal,
Muito mal, minha querida,
Em abandonar-me
Nessa ocasião.
Não se interrompe
O fogo de um desejo
Quando flamejam
As lavas de um vulcão.

Adoniran Cruz

domingo, 17 de maio de 2009


Horas de amor,
De prazer,
E de ventura,
Horas brilhantes,
Onde o riso perdura,
Horas de amor,
Sois orvalho nitente,
Ai horas doces,
Vibrai, revivei!
Foi-me à ventura
Inclemente,
Quando por te palpitei
Quando contigo sonhei.
Ontem girassol das campinas,
Hoje açucena se cor, já perdida,
Triste Romeu que te amou tanto quis,
Queimando o incenso da vida
Do teu caminho feliz!

Adoniran Cruz

Mote:

Na barra do teu vestido
Navega meu coração.

(Autor desconhecido)

Sede

Ouve, querida,
A verdade
Desta sinceridade
Que o meu desejo traduz:
Eu quero ser navegante
Neste oceano brilhante
Destes olhos azuis.
Quero beber
Nas cacimbas
Dessa linfa cristalina
Que se acham em tua boca,
Tão breve, tão coralina
E assim para os meus desejos
Quero beber os teus beijos!

Adoniran Cruz

sábado, 16 de maio de 2009

Espasmo



Trêmula, nervosa,
Nos meus braços fortes,
Tu te transfiguras,
Logo de repente,
O corpo inteiro
Se estorcendo
Em ânsias,
Em graciosos coleios
De serpente.
E os olhos bonitos
Já semi-fechados
Num envolvente,
Límpido marasmo,
Provam que te achas
Totalmente presa
Nas espirais vermelhas
Do espasmo.

Adoniran Cruz

sexta-feira, 15 de maio de 2009

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Exaltação




Dizem que Dante,
Um dia enlouquecera,
Ao receber
Um beijo de Beatriz.
Já comigo é diferente:
Para chegar a tanto,
Já não precisa assim,
Ser tão feliz.
Para perder o senso
Totalmente,
Finalmente
Para me abrasar,
Basta de te
Somente receber
Apenas um sorriso,
Apenas um olhar!

Adoniran cruz

Mote:

E, realmete a fonte no teu seio,
Sentir lânguido arfar em doce enleio...

Castro Alves

Amigo amor

Há, meu velho amigo amor é tão rico às vezes,
Sempre costuma vir, entretanto,
Em qualquer dia ou mês,
Nas angélicas do triste pranto.

Adoniran Cruz

Em pleno mar



Singra o navio
A vastidão dos mares
E lá me vou
Pelo destino a fora,
Enquanto as espumas
Lá da hélice
Vão rendilhando
As solidões marinhas
De níveas rendas
A escoar-se agora,
Estão em frente
Ao mar bravio
E gigantesco,
Com seus escolhos,
Com seus recifes,
E vendo o verde
Das vagas que se agitam,
Então me lembro do verde dos teus olhos!

Adoniran Cruz

Mata-me


Queres matar-me? Mata-me, criança!
É tão doce ser morto por um lírio!
Queres matar-me? Mata-me a esperança,
Que eu anseio contente o meu martírio!

Queres matar-me? Mata-me sem pena,
Sacia o teu capricho sanguinário;
Que me importa morrer – branca açucena,
Si em teus olhos perdura o meu calvário.

Queres matar-me? Mata-me, não temas!
Eu perdôo sorrindo o teu delito
E me vingo de ti em meus poemas!

Cumpre, afinal, o teu maior desejo,
Dá-me o veneno, o teu sorrir bendito,
Dá-me o punhal, um fervoroso beijo...

Aristides Iorio...

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O teu riso


Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda

Dama das Flores




Após um tempo no orvalho da manhã,
Era uma figura alta e verdadeira,
Entre as gramíneas e vôo das borboletas,
Em escarlate, vermelha como o vinho que ela apreciava

Seu rosto tão justo quanto um sorriso de criança,
Pele pálida como neve no inverno ameno,
Seu cabelo ruivo uma longa cascata,
Pés conjunto de dança através das claras nuvens

Jamais viveu sincera, não sabia,
Essa imagem de uma beleza pura e verdadeira,
Para cada um e todos brilhando luz,
Com a boca cheia e lindos os olhos tão brilhantes.

E nesse prado aconteça o que acontecer,
Ela dança livremente todos os dias,
Para fazer com que as flores que crescem há florir,
Despertados por seu doce perfume.

Suas cores a definir o campo chamejante,
Por luz e calor dos raios do Sol,
De violeta e vermelho e amarelo e azul,
Eles anseiam por ela e agir com paixão.

Ela é mãe, mulher idosa e camareira,
Para todos os que crescem com folhas exibido,
Mulher, de seu nome, assim,
A minha vida eu dou-lhe sem espalhafato.

E quando é feito com o sol do dia dormindo,
Ela ainda usa margaridas na cabeça,
Danças e um pouco abaixo da lua,
Mas para mim, pelo menos, se foi muito cedo.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Quisera eu...

Quisera eu te dar algo mais que poesia:
este ardor que me abrasa, e me punge, e espezinha,
e se consome em vão numa íntima agonia
porque não te possuí... porque não foste minha!

Não queria deixar que partisses sozinha
sem algo de vivido entre nós dois - queria
que a amarga solidão que em minha alma se aninha
fosse um canto de sol, de desejo e alegria !

Eu queria te dar algo mais que um lamento,
queria tatuar com meu beijo a lembrança
nem que fosse a lembrança feliz de um momento...

Com tão pouco de mim, num derradeiro empenho,
eu queria te dar algo mais... a esperança,
a fé que já perdi... o amor que já não tenho!

Infelizmente, poucos sabem ouvir as estrelas.