sexta-feira, 20 de maio de 2011


Contam que, uma vez, se reuniram os sentimentos e qualidades dos homens em um lugar da Terra. O Aborrecimento havia reclamado pela terceira vez que não suportava mais ficar à toa e a Loucura, como sempre louca, propôs-lhe:
- Vamos brincar de esconde-esconde?
A Intriga levantou a sobrancelha intrigada e a Curiosidade, sem poder conter-se, perguntou-lhe:
- Esconde-esconde? Como é isso?
É um jogo, explicou a Loucura, em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem, e quando eu tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará meu lugar para continuar o jogo.
O Entusiasmo dançou seguido pela Euforia. A Alegria deu tantos saltos que acabou convencendo a Dúvida e até mesmo a Apatia, que nunca se interessava por nada.
Mas nem todos quiseram participar. A Verdade preferiu não esconder-se. Para quê, se no final todos a encontravam?
A Soberba opinou que era um jogo muito tonto (no fundo o que a incomodava era que a idéia não tivesse sido dela) e a Covardia preferiu não arriscar-se.
- Um, dois, três, quatro… – começou a contar a Loucura. A primeira a esconder-se foi a Pressa, que como sempre caiu tropeçando na primeira pedra do caminho. A Fé subiu ao céu e a Inveja se escondeu atrás da sombra do Triunfo, que com seu próprio esforço, tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta.
A Generosidade quase não consegue esconder-se, pois cada local que encontrava lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos – se era um lago cristalino, ideal para a Beleza; se era a copa de uma árvore, perfeito para a Timidez; se era o vôo de uma borboleta, o melhor para a Volúpia; se era uma rajada de vento, magnífico para a Liberdade, e assim, acabou escondendo-se em um raio de Sol.
O Egoísmo, ao contrário, encontrou um local muito bom desde o início, ventilado, cômodo, mas apenas para ele.
A Mentira escondeu-se no fundo do oceano (mentira, na realidade, escondeu-se atrás do arco-íris), e o Desejo, no centro dos vulcões. O Esquecimento, não me recordo onde se escondeu, mas isso não é importante. Quando a Loucura estava lá pelo 999.999, o Amor havia encontrado um local para esconder-se, pois todos já estavam ocupados, até que encontrou um roseiral e, carinhosamente, decidiu esconder-se entre as suas flores.
- Um milhão, contou a Loucura, e começou a busca. A primeira a aparecer foi a Pressa, apenas a três passos de uma pedra.
Depois, escutou-se a Fé discutindo com Deus no céu sobre zoologia.
Sentiu-se vibrar o Desejo nos vulcões. Em um descuido encontrou a Inveja, e claro, pôde deduzir onde estava o Triunfo.
Egoísmo, não teve nem que procurá-lo. Ele sozinho saiu disparado de seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas. De tanto caminhar, a Loucura sentiu sede e, ao aproximar-se de um lago, descobriu a Beleza.
A Dúvida foi mais fácil ainda, pois a encontrou sentada sobre uma cerca sem se decidir de que lado esconder-se. E assim foi encontrando todos. O Talento, entre a erva fresca; a Angústia, em uma cova escura.
A Mentira, atrás do arco-íris (não, mentira, ela estava no fundo do oceano); e até o Esquecimento, para quem já havia esquecido que estava brincando de esconde-esconde.
Apenas o Amor não aparecia em nenhum local. A Loucura procurou atrás de cada árvore, embaixo de cada rocha do planeta, e em cima das montanhas. Quando estava a ponto de dar-se por vencida, encontrou um roseiral. Pegou uma forquilha e começou a mover os ramos, quando, no mesmo instante, escutou-se um doloroso grito. Os espinhos tinham ferido o Amor nos olhos.
A Loucura não sabia o que fazer para desculpar-se. Chorou, rezou, implorou, pediu perdão e até prometeu ser seu guia. Desde então, desde que pela primeira vez se brincou de esconde-esconde na Terra, o Amor é cego e a Loucura sempre o acompanha.

Autor desconhecido

terça-feira, 8 de março de 2011

Simplesmente, o Jardim...


Ao andares por lindo jardim,
Não se esqueça...
A grama um beijo te furta,
Por baixo da saia curta,
Que a perna te esconde em vão...


Adoniran Cruz

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Esquecendo o Mundo


Quando nossos beijos,
Repetidos, longos,
São como um licor
De um infernal enleio,
Quando recostado
Nas almofadas quentes
Que se acham
Nas conchas do teu seio,
Palavra, minha bela,
Tudo mais esqueço,
Eu que te amo
E a quem tanto adoras,
Nada mais vejo,
Não percebo nada,
Nem mesmo o lento
Decorrer das horas!

Adoniran Cruz

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sim, é você...




Manhã que nasce sorrindo,
É o girassol da alvorada,
Que desabrocha, luzindo,
Em cornucópias de fada.
E o céu bandeira infinita,
“Num riso de luz de aurora”,
Apaga estrelas, em fita
De restos brancos, agora.
O dia avança e, saindo,
Vem chegando a Ave-Maria
“É tarde, a morrer sentido”...
Chega à noite, vai-se o dia!
A esse tom derradeiro,
Que é do presente e de outrora
- Diz o meu sofrido coração –
Saudades que a gente chora.

Adoniran Cruz

sexta-feira, 16 de abril de 2010


Duradouro

Eu tenho um amor,
uma história, uma forma de vida.
Sua energia constante e insaciável
apenas me faz lembrar do passado,
como o momento se evapora como o orvalho da manhã,
empurrando-me para a luz do sol implacável.
Meu coração tem o controle, eu não;
Não posso fingir e fingir,
mas esta charada pomposa,
é destruída pela visão da minha alma
que me oprime com culpa
e um lamento para o imarcescível inalterável.
Uma fuga é absolutamente impossível,
pelo menos enquanto meu coração ainda bate,
espelhando a mão padronizados,
com que o meu amor reina.
Mas isso também passará,
porque eu, ao contrário do meu coração, não vou durar para sempre.

Adoniran Cruz

segunda-feira, 23 de novembro de 2009


Se resides, porém em alguma parte,
É no amor que devemos procurar-te ?
Mil vezes não!
O amor é fonte de aflição
Sobre rápidas horas de transporte
Cobra os tributos mais pesados;
No desvairo dos desesperados
Faz-se sócio do crime e irmão da morte;
Crepita é a destruição;
Nas longas noites de vigília triste
É a pena que mais doe no coração,
É o naufrágio, depois da tempestade!
Mas, se não vens do amor, é por que...
Nunca existiu amor e jamais existirá
Felicidade...

Adoniran Cruz

sábado, 24 de outubro de 2009

Aprisionado...


Meu amor, eu tenho tentado com todo o meu ser
Para agarrar uma forma comparável à tua,
Mas nada parece digno;

Agora eu sei por que Shakespeare não poderia
Comparar o seu amor para um dia de verão.
Seria um crime para denunciar a beleza
De uma criatura como ti,

Cada faceta do seu ser
Seja ela física ou espiritual
A partir da qual;
Não há nenhum lançamento.
Mas eu não quero me liberar.
Gostaria de ficar aprisionado para sempre.
Com você por toda a eternidade.
Nossos corações, sempre como um.

Adoniran Cruz