sábado, 24 de outubro de 2009

Aprisionado...


Meu amor, eu tenho tentado com todo o meu ser
Para agarrar uma forma comparável à tua,
Mas nada parece digno;

Agora eu sei por que Shakespeare não poderia
Comparar o seu amor para um dia de verão.
Seria um crime para denunciar a beleza
De uma criatura como ti,

Cada faceta do seu ser
Seja ela física ou espiritual
A partir da qual;
Não há nenhum lançamento.
Mas eu não quero me liberar.
Gostaria de ficar aprisionado para sempre.
Com você por toda a eternidade.
Nossos corações, sempre como um.

Adoniran Cruz

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

No Terceiro Céu...


Quando te aperto,
Em ânsias,
Nestes laços
Dos meus braços,
E vejo corar-te as faces
Tão fugazes,
Ardendo-te a pele em flor
Quando os teus seios
Tão duros e suspensos,
São como punhais
De provocante amor,
Posso gabar-me,
Lisonjear-me
De já ter vivido
De já ter conhecido
Todos os prazeres,
Já tendo tido ocasião
De profanar-te o véu,
Vencendo assim
Distâncias infinitas
E benditas,
Varando as plagas
Do terceiro céu!

Adoniran Cruz

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Versos de Orgulho


O mundo quer-me mal porque ninguém
Tem asas como eu tenho! Porque Deus
Me fez nascer Príncipe entre plebeus
Num Castelo de orgulho e de desdém.
Porque o meu Reino fica para além …
Porque trago no olhar os vastos céus
E os oiros e clarões são todos meus !
Porque eu sou Eu e porque Eu sou Alguém !
O mundo ? O que é o mundo, ó meu Amor ?
__O jardim dos meus versos todo em flor…
A seara dos teus beijos, pão bendito…
Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços…
__São os teus braços dentro dos meus braços,
Via Láctea fechando o Infinito.


Florbela Espanca , adaptação Adoniran Cruz

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Mar de Rosas


Palavra!
Não vejo eu
Grandes coisas
Na ciência
Do deus Cupido,
Quando meus olhos
Descansam
Ciumentos
E sedentos
“Na barra do teu vestido”
Agora vamos aos fatos:
Se a mim tremendo
Tu chegas,
Ardente, ciosa e lânguida,
Da cor das estátuas gregas,
Com volúpia
E sedução,
Então nesse mar de rosas
Purpurinas,
Libertinas,
“Navega meu coração”

Adoniran Cruz

quinta-feira, 8 de outubro de 2009


Sonhei que, numa carteira
Debruçado,
Eu te escrevia
Bem extensa carta,
Onde o teu nome,
Tão mimoso e audível,
Era à flor das linhas,
Repetidas a farta.
Mas quando,
Molhando a pena
No tinteiro,
Em tinta de brasas
E crisol,
Vi que errando
Ou desviando o alvo,
Alguns pingos caiam
No lençol.

Adoniran Cruz